Por que Neuropedagogia?

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Curso: Neuropedagogia
Livro: Por que Neuropedagogia?
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Data: sábado, 29 jun 2024, 18:16

1. Por que Neuropedagogia?

França, na década de 70, Hélène Trocmé-Fabre, uma dessas vozes em permanente questionamento procura novos caminhos para o ato de aprender. Ao longo de sua experiência como professora, em contato permanente com diferentes parceiros da situação de aprendizagem, ela pode constatar que apesar de todos os meios utilizados, como a renovação dos conteúdos, as ferramentas e as diversas abordagens metodológicas, os problemas de assimilação de novos conhecimentos e os problemas relativos ao “como aprender”, a atenção e a motivação, entre outros continuavam sendo ignorados. 


Mas ela observava também que os parceiros do sistema educacional tomavam consciência de que havia uma lacuna entre os recursos dos”aprendentes” e suas realizações; entre os esforços que todos faziam e os resultados obtidos; entre as expectativas de uns e de outros e os objetivos alcançados. Essa constatação levou-a concluir que era preciso mudar de atitude sobre a “aquisição de conhecimentos”. O sistema educacional continuava voltado somente para os conteúdos, dando muito pouco interesse ao “processo” de aprendizagem, aos recursos perceptivos e ao perfil do aluno. Para ela não existe aprendizagem humana possível, sem compreensão de si mesmo, sem compreensão do mundo que nos cerca, sem disponibilidade para com seu próprio ser. 


No início dos anos 80, encorajada e respaldada pelas pesquisas inovadoras sobre o funcionamento do cérebro, mas também pela abordagem sistêmica que já se desenvolviam nos Estados Unidos e em vários lugares do planeta, Hélène Trocmé Fabre decide focar sua tese de doutorado sobre os avanços da neurociências e o envolvimento delas na aprendizagem. 


A pesquisadora cria o conceito de “neuropédagogie” (neuropedagogia), estabelecendo assim um diálogo entre nosso cérebro (neuro) e a pedagogia ( a arte de aprender). 



2. As publicações de Trocmé-Fabre e o conceito de Neuropedagogia

Em 1987, Hélène Trocmé-Fabre publica pela primeira vez o livro J’apprends, donc je suis, une introduction à la neuropédagogie (Aprendo, logo existo, uma introdução à neuropedagogia) e que foi lançado em 2016 no Brasil. 


Nosso cérebro, como afirma Hélène Trocmé-Fabre é nosso órgão de aprendizagem por excelência, a pedagogia mais do que qualquer outra disciplina encontra sua legitimidade sob o prefixo “neuro”. Embora ela ainda seja considerada, por muitos, como uma disciplina para professores e que esse conceito tenha se desgastado com o tempo, é mais do que urgente resituá-la, valorizá-la como uma transdisciplina, por meio, entre e para além das disciplinas porque seu objeto principal é o aprender, nossa capacidade fundamental (17). 


A neuropedagogia, como diz Hélène Trocmé-Fabre é um apelo para que retornemos às raízes biológicas da aprendizagem. Um apelo por uma aprendência bionômica, ou seja, que rege a vida. Um apelo por uma aprendizagem/aprendência ecológica, que leva em conta as relações daquele que aprende com seu meio ambiente. Um apelo por uma emergência do ser e sua transposição para além da própria existência porque nascemos para aprender e para descobrir nosso próprio potencial na duração. 


Cada ser humano, seja qual for sua idade, sua origem, sua hereditariedade, seu passado, seu futuro… tem um direito fundamental: o de desenvolver sua inteligência, sua capacidade para compreender o mundo que o cerca, e para saber quem ele é. 


É necessário repetir com insistência: a natureza equipou-nos para aprender, para captar o que vemos, ouvimos e ressentimos. Mas, o mecanismo só poderá funcionar bem se não estivermos sobrecarregados por aquilo que cremos saber… A aprendizagem é um nascimento que deve ser feito sem precipitação, a seu ritmo e na hora exata. 


(17) Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), 2002.