A neuropedagogia atualmente

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Curso: Neuropedagogia
Livro: A neuropedagogia atualmente
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Data: sábado, 29 jun 2024, 17:23

1. A neuropedagogia atualmente

“Não nomear bem o objeto é aumentar o sofrimento do mundo” Albert Camus (18)


Atualmente, a “neuropedagogia” vem sendo substituída pelo conceito de “neuroeducação”. Porém algumas perguntas que vêm à mente precisam ser esclarecidas: Trata-se realmente de educar? O que colocamos sob o conceito de “educar”? O que leva os parceiros da situação educacional a preferirem “neuroeducação”, em vez de “neuropedagogia”? 


O verbo “educar” tomou um espaço enorme no panorama da aprendizagem, colocando um véu sobre quase todos os outros verbos envolvidos com o aprender, como por exemplo, o próprio verbo aprender, o verbo instruir, o verbo ensinar. A dificuldade talvez venha do fato de não sabermos exatamente o que colocar sob esses conceitos. Nós não somos capazes de definir com clareza qual é o papel de cada um, quem é quem na história. Nós, os pais, queremos que nossos filhos sejam “educados”, queremos que eles sejam “instruídos”, queremos que eles sejam “ensinados”. E diante da organização da sociedade atual, por razões múltiplas, delegamos cada vez mais essa tarefa à Instituição Educacional. 



2. Educar é tarefa de quem?

Antigamente com frequência, mas ainda hoje ouvimos a expressão “a educação vem do berço”, no sentido de que educar era da incumbência dos pais. Estes deveriam “entregar” à sociedade um ser “já com as regras de bases”, ou seja, as regras de comportamento ético, do respeito aos outros, de respeito às coisas e do respeito de si mesmo. Valores que aprendemos independente de nosso grau de instrução, de nosso grau de ensino e de nossa condição social. Somente aos 7 anos ou até mesmo mais tarde para alguns países, as crianças iam para escola para serem instruídas. Atualmente, nós entregamos nossos filhos à sociedade cada vez mais cedo para serem ao mesmo tempo educados e instruídos. 


Será que quando deixamos a educação de nossos filhos nas mãos da Instituição, mesmo sendo uma Instituição Educacional, não cometemos um erro de apreciação, de percepção, de conceituação? 


Será que é o papel da Instituição e dos professores, educar nossos filhos? O sistema educacional da maneira como ele é organizado só poderá instruir e é o que ele faz se observarmos a etimologia de “instruir” = amontoar materiais, ajuntar. O aluno/aprendente vai amontoando conhecimentos, na maioria dos casos desconectados uns dos outros, com um único objetivo um diploma no final. 


O interessante nessa batalha de conceitos, é o lugar do verbo ensinar. O verbo ensinar tentou realizar a proeza de reunir “educar e instruir”. Porém, vemos por inúmeros exemplos que os resultados não foram alcançados, apesar de todos os esforços e de todos os investimentos. Os professores estão mais desencorajados. O verbo ensinar caiu em uma armadilha, ficando entre uma Instituição desastrosamente burocrática e cada vez mais exigente e uma educação com pais totalmente impotentes diante das imensas transformações do mundo atual. 


O conceito de “ensinar” ao longo do tempo foi se tornando um conceito “fora do solo” e tão flexível que acabou se adaptando a qualquer uso, perdendo seu verdadeiro sentido. 


Provavelmente, será preciso esclarecer o papel de cada um desses conceitos e reajustar a linguagem/língua para podermos encontrar soluções para pais desarmados, professores infelizes, alunos desamparados.  



3. Onde está o professor?

Imagem: http://londrescalling.canalblog.com/archives/2012/10/02/25198645.html



Educar, instruir, ensinar, se eles são pertinentes, eles nunca poderão ser outra coisa que uma faceta do verbo aprender. Logo, é para esse conceito que temos que voltar o nosso olhar. O Ministério da Educação ganharia muito e provavelmente encontraria o verdadeiro sentido se ele fosse chamado de Ministério do Aprender. 


Hélène Trocmé-Fabre estava pelo menos uns vinte anos à frente, quando ela preparou sua tese sobre a Neuropedagogia, onde seu maior centro de interesse era o aprender. Mas, como ela diz: “Em um sistema educacional sobrecarregado de certezas não é possível mudar as mentalidades de um dia para outro”19. Apesar de toda a sua pertinência o conceito de “neuropedagogia” ainda tem encontrado dificuldades para ser aceito, os interessados preferindo substituí-lo pelo conceito de “neuroeducação”. 


A preferência pelo termo “neuroeducação” vem, provavelmente, do fato desse termo entrar no molde já pré-estabelecido. Mudar é talvez correr o risco de perder o controle e o ser humano, como podemos constatar, sempre foi atraído pela vontade de controlar. Ele buscará infinitamente meios, palavras, conceitos que o levam nessa direção. 


Logo, “neuropedagogia?”ou “neuroeducação?” Somente o futuro determinará a prevalência.